Mulheres no RPG – Será que Realmente Estamos Inclusas?

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Como o título sugere, irei falar um pouco sobre o interesse de mulheres no RPG.

Para ser mais exata, esse post se refere a RPG de mesa.

Alguns de vocês devem estar pensado “Verd sua louca, vai vir com inclusão até no RPG de mesa”?

A resposta é SIIIIIM! Até aqui irei entrar com esse assunto que muita gente repudia.

E para a tristeza de alguns e alegria de outros, não irei me limitar a falar sobre inclusão apenas de mulheres.

Futuramente também abordarei sobre a inclusão de LGBT+ também.

Cada vez mais o publico de jogos de RPG vem se tornando mais heterogêneos, compostos por diversos gêneros ou orientações sexuais.

Sendo incentivados essas inclusões até mesmo pelas empresas WotC e pela White Wolf.

Mesmo assim, ainda existe muito preconceito com a inclusão de mulheres no RPG e do pessoal LGBT+ nesse meio.

E pasmem, essa questão é tão delicada que às vezes alguns pequenos detalhes podem acontecer sem você se dar conta que sua mesa pode não ser tão inclusiva assim.

Justamente por isso irei fazer um post com minhas vivencias pessoais sobre RPG.

Inclusive de quando eu mesmo acabei perpetuando ideias machistas não apenas no RPG, mas no meio nerd no geral.

Antes de falar sobre RPG em si e causar uma guerra de jogadores x jogadoras, vamos entender um pouco sobre o porque há poucas meninas interessadas.

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Fonte/Divulgação: Geek & Sundry

Mulheres no RPG – A Minha Vivencia de Meninos X Meninas

Não é incomum a ideia de que mulheres não se interessam por RPG.

Existe vários motivos para que isso ocorra.

Um deles é a máxima de que mulher é mais pé no chão e amadurece primeiro.

Uma ideia que é absurdamente perigosa, mas não entrarei nessa questão aqui.

Mas essa ideia é um dos porque a imaginação das mulheres é menos incentivada do que a dos homens.

É uma ideia limitadora e imposta que é ditado como normal.

Claro que há exceções à regra.

Me recordo bem de quando saiu o cardgame do Yu-Gi-Oh, pois jogava na escola com os meninos e algumas meninas achavam isso quase que absurdo.

Da mesma forma que os meninos, eu vivia em um mundo de fantasia regado a Dragon Ball, CDZ, Yu-Yu Hakusho, Samurai X, Gundam Wing e todas as formas de animes e afins que tinha na época.

Contrapondo a isso as meninas falavam da revista capricho, novela e relacionamentos, assuntos da qual eu não me identificava.

Eu não queria um namorado e não sabia nada sobre o Leonardo Dicaprio ou qualquer boy magia que aparecia na toda Teen.

Estava mais interessada em colecionar revistas da Turma da Monica, Herói 2000 e os mangás da Sakura Card Captors e CDZ.

Me comparando com a maioria das meninas, me sentia um alien.

Mulheres no RPG – Magia Medieval para Meninos e…Similares?

Quando eu vi a primeira vez um grupo de colegas meus jogando D&D me interessei de imediato.

Eu tinha uns 15 anos na época.

Eu queria jogar com eles e sempre manifestei a minha vontade de jogar, mas toda vez que entrava nesse assunto, eles desconversavam.

Na época não fazia ideia do por que, mas hoje SUSPEITO que seja pelo fato de eu ser mulher.

Meu segundo contato com D&D foi na faculdade e a mesa me aceitou de imediato

Não era uma mesa fixa, mas aconteciam algumas “oneshots” e realmente tive muita vontade de jogar uma história mais complexa, com uma personagem minha.

Mas uma Coisa Estava Clara para Mim

Tanto na primeira mesa em que não fui aceita, quanto na segunda mesa que foi bem receptiva, só havia meninos.

Salvo quando a namorada de um jogador jogava com a gente e mesmo assim era atribuído ao fato de ser a namorada de um jogador.

Não vou mentir que eu sentia uma diferença na maneira delas jogarem com a maneira que eu jogava.

Novamente, os meninos sempre falavam que eu me comportava como um menino.

Da mesma forma, quase não tinha amigas e as poucas que tinha, também fugiam de alguma forma de comportamento heteronormativo.

Chegava a ver como elogio o fato de me assemelhar mais aos meninos do que as meninas de um modo geral.

Visto que os meninos sempre apertavam na tecla do “você não é fútil como as outras meninas”.

Essa situação não é exclusivamente minha, mas é a situação que muita mulher nerd vivenciou na década de 90 e nos anos 2000.

Devido a isso, bizarramente e de forma inconsciente, muitas de nós reforçávamos que RPG e o meio nerd no geral não era para meninas “comuns”.

Portanto, reforçávamos a ideia de que não deveriam ter mulheres no RPG.

Aprendemos a ver que as mulheres com comportamento padrão era fútil, devido a isso, nos sentíamos especiais por parecermos como meninos.

Não conseguíamos ver que boa parte dessas mulheres na verdade foram educadas para serem assim.

Sentíamo-nos no mesmo patamar que os meninos.

Mas o tempo me mostrou que não é bem assim…

Mulheres no RPG – Machismo Nosso de Cada Dia

Antes de namorar, já havia participado de algumas poucas mesas e apenas uma mesa de longa data de Tormenta.

Todas as mesas majoritariamente masculinas.

Mas cada um foi para um canto e acabei por ficar um bom tempo sem jogar.

Eis que a tia Verd aqui começou a namorar e… quem diria, vivenciou o outro lado!

Meu namorado é um fã incondicional de RPG, principalmente de D&D e Vampiro a Máscara.

Uma bela noite, a mesa antiga do meu namorado se reuniu.

Ele havia falado muito bem da mesa antiga dele e me deixou com as expectativas altíssimas.

Meu namorado e eu fomos jogar.

Essa foi a primeira vez que joguei com meu namorado e infelizmente não tenho boas memórias.

Eu senti que alguns dos meninos se comportaram como se eu fosse uma intrusa.

Não me explicaram direito como funcionava a mesa deles, literalmente fui jogada de forma aleatória na história e ficou por isso mesmo.

Por mais que eu tivesse até esse momento, poucas experiências com RPG, nunca havia me sentido como se estivessem me jogando para escanteio.

Hoje me dou conta que acabei me comportando como as meninas que acompanhavam os namorados nas sessões anteriores e que havia participado.

Antes de namorar, achava que eu era “especial” por ser aceita pelos rapazes como uma “igual”.

Mas na verdade eu era apenas masculinizada e por consequência havia uma similaridade entre eu e eles.

O Apêndice

Depois que comecei a namorar, fui vendo que UMA PARTE dos rapazes me viam como uma espécie de apêndice do meu namorado.

Independentemente de que meu interesse por RPG fosse anterior ao meu namoro.

Eu percebi que muitas mulheres no RPG perdiam a identidade, tornando-se apenas a namorada que joga, e não uma jogadora a parte.

Não apenas no RPG de mesa, pois isso aconteceu comigo até mesmo no WoW.

Para o meu horror, alguns dos homens que considerei como amigos, que tanto eu quanto meu namorado conhecemos JUNTOS, percebi que não era uma amizade recíproca.

No fim das contas eu era apenas a namorada dos amigos deles.

Esse comportamento não é exclusivo de homens pois sei que uma parte das mulheres no RPG também veem as namoradas de jogadores como uma espécie de extensão.

Pois antes de vivenciar o outro lado, eu mesmo acreditava que as namoradas que iam à mesa e eram mais tímidas estavam lá para vigiar o namorado ou algo do tipo.

Por conta disso eu pergunto:

Quantas meninas tiveram real interesse em jogar e tiveram seus interesses minados por uma experiência ruim?

Se eu já não tivesse participado de mesas onde eu havia me sentido confortável, talvez eu também estivesse no time das mulheres que não acha graça em jogos de RPG.

Detalhe que minhas experiências negativas com RPG foram bem leve comparadas com a de outras mulheres.

Um post no site Garotas Geeks e o podcast BeholderCast77 também aborda esse tema de uma forma muito pontual.

Não apenas nos posts, mas é possível ver nos comentários algumas pessoas falando de experiências negativas de mulheres relacionado ao machismo.

Mulheres no RPG – Criando uma Mesa mais Inclusiva

Eu poderia muito bem ter começado meu post por essa parte, sem fazer uma narrativa pessoal de minha vivencia.

Mas isso soaria apenas como se fosse algo de Jogadores x Jogadoras.

E não é apenas isso que quero passar.

O motivo de eu ter me exposto assim é para mostrar que, algumas mulheres reforçam estereótipos machistas ao não ter empatia com uma jogadora.

Como eu mesma fiz no passado.

Ironicamente, eu que sou mulher reproduzi mais a máxima machista de que mulheres não jogam RPG do que o meu namorado.

Portanto esse post não é EXCLUSIVAMENTE para homens tomarem cuidado com o machismo nas mesas.

Aqui também é um alerta para mulheres que possam reproduzir esse tipo de comportamento.

Mesmo que de forma inconsciente.

Se você tem jogadoras em sua mesa, ou não vê problemas de ter jogadoras, irei colocar algumas notas que pode ajudar a identificar algumas situações que possam constranger mulheres que jogam.

Mulheres no RPG – Como a Mesa vê a Jogadora?

Claro que se você perguntar isso diretamente para os rapazes da mesa, uma boa parte dirá que não vê diferença (mesmo assim algumas respostas podem ser surpreendentes ou assustadoras).

Até mesmo em uma autorreflexão a primeira resposta que vem é essa.

Porém essa pergunta que fiz acima não é para ser feita diretamente aos membros de sua mesa e sim para observar ao longo do tempo.

Vamos a algumas situações:

Violência Contra Mulher

Avalie se na campanha que você participa há algum tipo de violência desmedida contra personagens femininas (NPC ou personagem de jogador) como narração de assédios, violência psicológica, estupros detalhados e com qual frequência.

No geral, EVITEM A TODO CUSTO esse tipo de abordagem, pois pode gerar mal estar.

“Mas Verd e se a história for com um cenário mais pesado ou violento, com uma pegada mais gore?”

A situação é realmente necessária para o decorrer da história?

Há sadismo por parte de algum jogador ou do narrador nessas cenas?

Os demais jogadores ficam chocados ou simplesmente fazem piadas da situação?

Independentemente de ser um jogo que possa conter violência, precisa haver cuidado para não constranger nenhum jogador ou jogadora.

Falar que o personagem estuprou por ser um bárbaro, que assediou por ser um Malkavian ou afins, não é desculpa para banalizar a violência contra mulher.

Caso a sua história contenha gatilhos, avise ao grupo antes da campanha.

Se algum jogador demonstrar desconforto mediante a isso, não faça!

Outro detalhe, sempre nivele o nível de violência independentemente do gênero ou orientação sexual do personagem.

Ser uma personagem feminina não é desculpa para incluir violência sexual na sua história.

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Fonte/Divulgação: Garotas Geek

Menosprezo

Mulheres não são menos capazes do que homens para jogar RPG.

Portanto não as tratem como “café com leite” em uma campanha.

Se ela quer fazer uma personagem de ataque não há problema.

“Mas Verd, e se ela for iniciante?”

Trate-a como você trataria qualquer jogador iniciante.

Alguns vão ter mais facilidade com regras e apresentar dificuldade com RP

Outros, pelo contrário, tem dificuldade na construção de fichas e na hora de interpretar realmente encarna o personagem.

Isso acontece independentemente de ser homem ou mulher.

Se uma mulher diz que sabe jogar ou mestrar, não queira intima-la para saber o quanto ela manja.

Boicote às Mulheres e Personagens Femininas

Por mais bizarro que parece, há mesas que boicotam personagens femininas.

As desculpas são que os caras não sabem se comportarem personagens femininas.

Que a interação na mesa não seria tão boa se houver uma mulher ou qualquer coisa do tipo.

Colega… sinto informar mas nesse caso, o problema não são as mulheres ou as personagem feminina.

O problema é o tipo de pessoa que você anda se relacionando.

Converse com o seu grupo.

Acidez Exacerbada

Preste atenção se na sua mesa há jogadores que desconte as frustrações nas personagens femininas ou nas mulheres do grupo.

Isso eu já senti na pele.

É algo tão sutil que no começo achava que era implicância minha, mas pedi para meu namorado observar e ele também identificou esse tipo de situação.

Se você for o narrador(a) de uma campanha e notar esse tipo de comportamento em sua mesa e a menina não consegue falar diretamente contra a pessoa que está com implicância, segue duas dicas:

• Interfira dentro do jogo de forma criativa, onde você deixa claro que o que ele está fazendo é um absurdo.
• Ou interfira fora do jogo, conversando com ele que isso é desagradável.

Se você é um jogador e suspeita que algum colega, seja narrador ou jogador esteja fazendo isso, converse com a menina.

Provavelmente ela pode ter percebido e não ter se pronunciado por ter medo de parecer inconveniente ou implicante.

Depois, conversem com o colega sobre o que está ocorrendo.

Cantadas

Pelo amor do que lhe for mais divino, MESA DE RPG NÃO É AMBIENTE PRA CANTADA!!!

É relativamente comum ver relatos de mulheres no RPG que desistiram de um grupo por conta de cantadas por parte de um jogador.

E pior, caso a menina deixe claro que não há nenhum interesse de relacionamento e insista em ficar na mesa, pode existir um estranhamento entre os membros do grupo.

Nesse parâmetro é comum ver perseguição contra as personagens femininas, seja assediando-as ou seja atacando-as.

Esse tipo de situação incomoda e assusta.

Isso quando o foco não é a personagem.

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Fonte/Divulgação: Legitimo Geek

As veze cria-se uma sexualização tão forte das personagens femininas que gera incomodo também.

Exemplo claro disso são as ideias de armaduras femininas em forma de biquíni.

Aliás, se precisarem de ideias para armaduras femininas, algumas boas referencias que encontrei no Tumblr. basta clicar aqui

Além dessas situações que citei, há inúmeras outras situações constrangedoras que pode ocorrer que desmotive a participação de uma mulher a jogar RPG.

Independente da situação, se vocês virem alguma coisa que possa ser considerada machista, não sejam coniventes.

Converse com o seu grupo, apoie jogadoras e principalmente: Ouça-as!

Há mais mulheres que se interessariam e se interessam por RPG.

Só não se sentem confortáveis ou seguras para jogar.

Mulheres no RPG – Mesas 100% Femininas

Sei que muitos homens vem se tornando cada vez mais inclusivos quando o assunto é a adesão de mulheres em grupos de RPG.

Mesmo assim, ainda existe muitos homens que são machistas e taxam de vitimismo os relatos de machismo por mulheres que jogam RPG.

Por conta disso acabou surgindo uma demanda de ambientes majoritariamente femininos ou até mesmo totalmente femininos.

Paginas de facebook como As Minas de Moira ajudam a promover eventos de RPG para mulheres.

No caso dos MMORPG, grupos como As Amazonas no World of Warcraft, onde são aceito apenas mulheres também estão mais recorrentes.

Essa situação mostra que as mulheres estão cada vez mais se interessando pelo RPG.

Mas que ainda há muito a ser feito devido ao machismo.

Esse tipo de iniciativa não é com o intuito de boicotar homens por nenhum motivo.

Mas apenas para criar ambientes onde as mulheres se sintam mais seguras.

Apoiar a iniciativa desses eventos femininos é fundamental, até mesmo para que muitas mulheres ganhem a confiança de jogar em uma mesa mista.

Lembrem-se, nunca diminua uma jogadora por ser mulher.

Em breve terão mais postagens minhas sobre RPG e coisas Geek.